29 de janeiro de 2017

Um sonho interestelar

Interestelar
Uma manhã chuvosa de um dia de verão. Para aquela época do ano era o dia perfeito para ela que sempre odiou o calor. A vontade de permanecer na cama dormindo era muita. A cada novo dia após uma noite com um sonho lúcido e profundo era um motivo para pensar se aquilo era real. Que sonho estranho era aquele que não tinha em tempos?

A reflexão sempre foi normal, as pessoas envolvidas, que hoje tinha raiva, um dia muito se preocupou. Não sabia se o motivo da raiva era por ter sido abandonada por aquela gente ou se era inveja da vida que elas tinham, a vida normal que tanto queria. O barulho da chuva pelo menos era agradável, mas aquela manhã parecia diferente, o quarto parecia diferente do que era na noite anterior.

O cubículo que antes tinha paredes tortas com uma pintura imperfeita, cheia de saliências e descascando, agora estavam retas e bem pintadas. No lugar forro de madeira do teto havia algo bem feito, mas as estrelas de um tipo de adesivo que brilha no escuro ainda estavam lá, só que em posições e formas diferentes. Não se lembrava de uma manhã que não tenha observado aquelas estrelas por um bom tempo.

De repente reparou que tudo estava diferente e ao mesmo tempo igual, os mesmos tipos de móveis, mas novos, inclusive a televisão, onde antes havia um defeituoso aparelho antigo de tubo, havia agora um novo de LED. Aquilo tudo lhe causou um forte frio na espinha. Será que o corpo também havia mudado?

Sim, havia. Seria isso um sonho? Tudo o que sempre desejou? Não se importava com a vida antiga e jogaria de bom grado todas aquela vivências no lixo. Não conhecer mais as pessoas que conhecia era um fato, mas poder conhecer outras era outro.

Assim que se deu conta do que estava acontecendo, abriu a gaveta de cima do criado mudo para ver o que estava escrito no seu caderninho rosa que usava como diário para descontar sua raiva e desabafar, mas para sua surpresa ele não estava lá, nem os vários gibis antigos que eram o seu refúgio quando criança. Outros tipos de livros ocupavam o lugar, mas a sua tralha eletrônica portátil permanecia quase a mesma.

Era difícil acreditar que aquilo estava acontecendo. Até as roupas na gaveta da cômoda haviam mudado e todas as que ela sempre quis estavam lá. A última coisa que faltava era se olhar no espelho do corredor, o maior da casa. A garota que ela sempre imaginou agora estava lá. A admirou por um bom tempo até a realidade parecer estranha.

Mais uma vez estava no quarto acordando, desta vez com o celular vibrando por causa do despertador que marcava nove horas com o nome do medicamento que ela tinha que tomar. Tudo estava igual como na noite anterior, exceto pelo manhã quente e abafada. Foi outro sonho, mais um dos que ela queria permanecer e nunca mais sair. Mais uma vez foi tirada a força de um sonho e jogada em um pesadelo. "Bom dia" falaram para ela no caminho do banheiro.

Mau dia. E chorou.

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