11 de março de 2017

Odeio ser trans

The gleaming death
E não tenho medo de admitir. Muitas pessoas trans tem esse medo, porque há quem caia em cima com críticas sobre críticas, a menos que seja alguém famoso e extremamente venerado, aí nesse caso aplaudem o discurso. É importante não negar este fato, pois sempre tem quem venda uma imagem de que ser trans é um mundo de unicórnios, quando não é.

Para mim ser trans é uma desgraça, uma das piores coisas que podem acontecer a alguém, um mal que eu não desejo nem à pessoa mais transfóbica do mundo. É uma tortura viver num corpo que não é seu, crescer vendo todos à sua volta sendo exatamente quem querem se tornar, tendo oportunidades de poder construir um futuro e se tornar alguém, sem ter que se preocupar com o desenvolvimento do corpo ou sequer cogitar a pensar em ter que gastar uma fortuna com medicamentos porque o corpo deles vai se tornar exatamente aquilo que esperam que se torne, enquanto no seu caso o seu corpo vai te tornar totalmente o oposto daquilo que você deveria ser. Viver se lamentando todos os dias, como se fossem um funeral. Lidar com sonhos que refletem como sua vida deveria ser e não poder se trancar neles para nunca mais acordar e voltar a esse pesadelo diário.

Morrer se torna uma esperança, o fim dessa sentença maldita de viver desse jeito. A espera interminável pela morte, que será recebida de braços abertos como uma velha amiga, é amargurante. Além de lidar com as lembranças de um passado que assombra como fantasmas, ainda tenho que lidar com diferentes níveis de tortura psicológica todos os dias, com gente que diz que o meu sofrimento é "um privilégio" e que a minha dor não passa de "um fetiche", gente que não tem a mínima noção do que é ter que viver com esse fardo. Algumas pessoas até tentam amenizar ao dizer que torcem pela melhora sem saber que não existe nenhuma possibilidade de melhora, pois eu não posso ser normal, não posso ser cis, a menos que morra e nasça de novo. Isso dói, como mil facas cortando a pele em diferentes pontos ao mesmo tempo. A sensação que fica é a de estar sozinha num canto frio, abandonada e esquecida.

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