8 de junho de 2017

Religiosidade

Uma bruxa moderna
Esse não é um assunto que eu gosto muito de tocar, mas devido ao que muitas pessoas têm me falado no dia-dia envolvendo suas religiões, isso se fez necessário.

Na primeira versão do blog, em agosto de 2012, eu havia tocado nesse assunto, mas na época o objetivo era falar da influência religiosa na cultura brasileira. Lendo agora aqueles dois textos que fiz vi que ficaram um pouco rasos em meio a pesquisa que havia feito na época, mas a abordagem dessa vez será diferente, embora eu cite alguns trechos daquele conteúdo apagado do blog durante a estréia da segunda versão, quando reformulei tudo.

Há aproximadamente seis anos eu deixava de ser cristã. Diversos foram os fatores que me levaram a isso, sendo o principal deles o fato de ser trans. Na época eu acreditava na bíblia, e segundo o que estava escrito lá, eu jamais poderia viver como mulher, ou seja, teria que me submeter à uma vida completamente infeliz ao adotar uma fantasia de "homem", viver algo que não sou.Aquela crença me matava por dentro e diversas vezes cheguei até a fazer perguntas em grupos cristãos sobre aquilo.

Um dia, por coincidência caí num site de uma mulher trans dos EUA que havia passado pelo mesmo que eu. Para superar aquilo, ela estudou a bíblia até chegar a conclusão de que a bíblia não estava certa. Haviam muitos trechos que contradiziam outros. Ela fez um artigo citando esses trechos com contradições e eu me lembro inclusive de anotar todos os versículos para dar uma olhada na bíblia que ficava na minha mesa de cabeceira. O que ela dizia era verdade.

Não vou me aprofundar no assunto e nem nos fatos ou pesquisas de tudo o que me levou a descrer na bíblia, pois é algo que iria render um texto extremamente extenso e cansativo, mas se houver alguém interessado, me envie um e-mail através da página contato.

O que eu posso dizer daquela época, é que foi um período bem difícil. Considerando o fato de que vivemos num país onde o cristianismo é a religião dominante, o mais provável é que nossos pais sejam praticantes desta religião e que nos criem dentro dela ao levar na igreja. Meus pais eram católicos, e quando eu nasci, me levaram até uma igreja católica para fazer o batismo. Durante alguns anos minha mãe me levou à igreja, não só a católica, mas também a batista. Meu pai não era praticante da religião e nunca o vi pessoalmente numa igreja.

Embora minha mãe tenha deixado de ser praticante fiel com o tempo, era de costume ela visitar alguma igreja, na maioria das vezes a batista, a que ela mais gostava na época. Ela tinha sua religião, mas eu não costumava levar muito a sério, mesmo chegando a frequentar a escola dominical por alguns meses. Eu não me sentia parte daquele meio e ia mais pelo fato de ser influenciada a ir.

Além da igreja, os professores e alunos nas escolas eram em maioria cristãos, então não foi muito difícil eu acabar adotando uma religião, já que havia uma certa pressão social para tal, além do medo que impunham de que se eu não fosse fiel a deus iria para o inferno.

Hoje eu reflito bastante sobre o terror psicológico que me era imposto, e sobre isso citarei uma postagem que fiz no facebook outro dia:
Há aproximadamente de dez anos minha mãe me levou num teatro que a primeira igreja batista (local) e que se chamava "casa do julgamento". O enredo era sobre dois adolescentes com câncer. O garoto era fiel a deus e a garota questionava sua existência, mas fazia boas ações, tipo a boa samaritana. Um dia eles estavam discutindo no hospital até que ela disse que não acreditava em deus e morreu. Não muito tempo depois ele também morreu. Quando os dois se encontraram com deus, ele mandou a garota para o inferno porque ela não acreditava nele, ignorando todas as boas ações que ela tinha feito, como se não significassem nada. Já o garoto foi para o céu só porque era um cristão fiel.
Na época eu fiquei com o maior medo daquilo, mas de certa forma me ajudou, alguns anos depois, a entender o terror psicológico que a igreja cristã prega na sociedade. Sempre que eu ouço pessoas cristãs conversando, percebo muito desse medo. Deixam de fazer coisas porque pode desagradar a deus e chegam até mesmo a pedir permissão ao pastor antes de fazer algo. Antes de eu deixar de ser cristã, cheguei a sentir essa obrigação de ir em uma igreja católica falar com o padre sobre a minha condição de trans e eu me sentia culpada por não ter coragem para ir.

Hoje sou agnóstica, mas diria que estou em cima do muro entre o ateísmo e o paganismo. Acredito que possa existir um ser superior, mas admito a possibilidade de estar errada. Ainda sofro bastante de pressão no dia-dia para ser cristã e frequentar alguma igreja. Mesmo que eu fale para as pessoas que não sou mais cristã, que não acredito mais no deus cristão e nem na bíblia, elas insistem em continuar falando sobre isso para mim. Embora eu não concorde com essa religião, eu respeito quem é praticante, pois entendo a pressão social que existe para que as pessoas façam parte dela, considerando que existem pregadores nas ruas, nos terminais de ônibus e até mesmo dentro dos ônibus, mas eu também gostaria de ser respeitada por possuir uma crença divergente.

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