7 de julho de 2017

Tempo

Relógio de bolso
Era cinco e trinta e três da tarde. Àquela hora eu já deveria estar num ônibus para casa, mas estava numa praça distante, ao lado de um banco quebrado admirando um buraco que estava na terra sem mato à minha frente.

Havia passado os últimos três minutos desejando que um coelho de paletó, cartola e com um relógio aparecesse para me levar. Não me importaria se estivesse atrasada, só queria alguém para me tirar dali.

Eu nem sou tão fã assim de Alice no País das Maravilhas, mas às vezes eu gostaria que houvesse um mundo paralelo ao nosso onde fosse possível escapar da realidade e talvez até uma possibilidade de nunca retornar.

De madrugada acordei antes do despertador tocar. Minha única amiga era a boa e velha escuridão, que foi a única a não me abandonar. O frio intenso me fazia querer permanecer em baixo das cobertas, onde eu podia dormir e sonhar, e através dos sonhos poder esquecer que existo. Mas eu não podia ficar.

Na cozinha o veneno para rato ainda estava em cima da geladeira. Quem o colocou lá foi por medo de que o gato do vizinho entrasse em casa e acabasse comendo. Se tal pesticida não tivesse um efeito tão doloroso, talvez fosse eu a come-lo.

Enquanto esquentava o achocolatado no fogão, observava as formigas trabalhando incansavelmente para carregar os restos de alguma sobra de comida que havia caído em algum lugar. Sempre ouço quem defenda que a vida é bela, talvez seja fascinante, tanto quanto falam, mas se tais afirmações são verdadeiras, eu não sou capaz de perceber.

"I am miles away from where you are. I lay down on the cold ground and I, I pray for something that picks me up and set me down in your warm arms."

"Estou há milhas de onde você está. Deito no chão frio e oro, oro para que algo me levante e me coloque em seus braços quentes."

Esse trecho da música "Set fire to the third bar" é o que pode melhor me resumir. Uma alma cansada, que talvez tenha vivido milhares de outras vidas, mas que não suporta mais a vida. O desgosto de não conhecer nada além do sofrimento, da dor, faz desejar a todo momento uma visita da morte. Se em casa que seja durante o sono, se na rua que alguém me coloque uma arma na cabeça.

Eu não sou capaz de ver o porque das pessoas acharem que existe algo de bom na vida. Não sou capaz de compreender a felicidade. Essas coisas, as boas, não acontecem comigo, ou se acontecem, sempre estão acompanhadas de algo três vezes pior. Só o que eu posso dizer é que odeio a vida. Odeio ter que acordar todos os dias e lidar com essa existência medíocre. Mas acima de tudo, odeio quem me fez assim.

Seis e vinte entrei no ônibus, um que me fará levar o dobro do tempo para chegar em casa, e o único disponível. Até passar na roleta eu ainda fui capaz de segurar, mas assim que sentei, as lágrimas estamparam o rosto, continuamente. O mesmo rosto que durante a madrugada havia recebido uma camada de maquiagem, removida logo em seguida por deixar pior do que estar sem. Assim como há três anos eu evitava o espelho, hoje a história de repete.

Das coisas que faço para conquistar algo que deveria ser meu desde o nascimento, não me orgulho de nenhuma delas. Se existe algum ser divino ou superior, que tipo de ser sádico faz uma pessoa viver um inferno num corpo que não corresponde ao que ela é. Qual é o objeto disso? É uma sentença punitiva? Como ouvi há meses atrás de uma pessoa que nem fala mais comigo, talvez a vida seja uma grande piada cósmica onde todos nós somos palhaços, marionetes, fantoches, etc.

Tic-tac a hora passa. Sete e doze. Por quanto tempo mais isso vai durar? Talvez devesse haver um cronometro que indicasse quando tempo ainda falta ou uma data no calendário que indicasse quando isso termina. Enquanto não chega, por que demora tanto? Por favor venha, me levante e acolha em seus braços calorosos.

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