4 de maio de 2020

Hello friend


Já faz algum tempo desde a última vez em que vos escrevi. Não houveram mudanças drásticas desde a última vez, mas talvez não seja mais do mesmo que virá abaixo. Estou há um bom tempo para escrever algo novo, uma análise social diante da pandemia, mas refleti e pensei que não vale apena.

O que mudou desde então (setembro)?
Estou há um ano sem ciproterona graças à enorme morosidade do judiciário brasileiro e as consequências disso são visíveis. Mesmo que eu ainda consiga usar o estradiol-gel, que eu só consegui estocar através do processo graças às diversas alterações de dosagem, não é suficiente. A textura da pele está voltado a ser o que era antes, o toque, o crescimento acelerado dos pelos, mudança no tom de voz, odores corporais e mudanças psicológicas. Tudo o que eu não queria.

Por causa disso, aquele restinho de esperança que eu tinha se foi. Cá estou eu como há 10 anos, quando terminei a escola, antes de entrar em crise existencial a respeito do que eu era, passando o dia jogando um MMORPG. Acordando cedo e dormindo tarde, sem me importar com o resto. Se eu me arrependo de ter me assumido mulher? Não me arrependo, pois é o que eu sou.

Mas não sou normal. Sou especial. Já me falaram isso várias vezes, mas só agora caiu a ficha. Por mais que eu não goste, sou especial, e por isso me sinto menos, pois as pessoas sempre vão me tratar diferente. Infelizmente eu sou diferente. Me sinto como se meu mundo estivesse em pedaços, como um planeta implodido de seu núcleo, mas não é só por isso.

Ser "um campo de destroços" é algo que sempre esteve aqui. É o que me ajudou a superar os diversos traumas pelo qual passei, especialmente aqueles quando eu ainda era criança e tive direito negado a ter minha própria identidade. É como em Mr Robot, onde Eliot criou várias personalidades para conseguir seguir em frente. Eu só não havia me dado conta disso ainda.

Quanto à medicação, eu poderia ter feito valer meu direito dos prazos processuais serem cumpridos, mas chega uma hora que cansa. Ano passado mesmo o cartório, com novo quadro de funcionários, estava esperando os exatos um mês de prazo que eles tem para movimentar o processo, e olha que tem pedido de urgência. Eles acabam nos vencendo pelo cansaço.

Apenas me sinto impotente diante disso tudo. Gostaria que as coisas fossem diferentes, mas nem tudo depende apenas de mim. Eu queria muito ter vontade de viver, mas viver mesmo, não simplesmente sobreviver nessas condições.

Por mais cética que eu seja, eu realmente espero que essa vida não tenha sido em vão, que apenas não termine quando a gente morre. Não sei se é um desespero meu em encontrar soluções para as perguntas que não consigo responder, mas talvez realmente exista algo além da nossa compreensão. Ateísmo absoluto é tão ruim quando fanatismo religioso. Você se torna tão cético, que fica praticamente impossível na simples possibilidade de acreditar.

Bem, é isso. Ainda não morri. Ainda estou aqui. Até quando? Não sei.

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