16 de novembro de 2018

Recaída


Olá escuridão minha velha amiga. Voltei para falar contigo novamente por causa de uma visão levemente aterrorizante que foi deixada enquanto eu dormia. E essa visão que foi plantada em meu cérebro ainda permanece com o som do silêncio.

O início da música "Sound of Silence", de Simon & Garfunkel, resume perfeitamente a minha situação no momento. Depois de quase um ano sem pensar em querer morrer, cá estou eu novamente na mesma.

Este ano basicamente substituí a depressão pelo estresse crônico. Me tornei uma pessoa explosiva, que se estressa por qualquer razão. Não sei como não tive um infarto. Quando a raiva passava, vinha a melancolia, assim como agora.

Depois de muitos dias ruins eu finalmente conseguiu o direito a possuir os documentos que me permitam ser legalmente reconhecida pela minha identidade. Achei que ia me sentir maravilhosamente bem, mas não. Sinto como se não fosse o suficiente.

Desde o final do ano passado não tive nem mesmo uma entrevista de emprego. No Brasil não importa se você é capaz, só o que importa é o status de possuir milhares de formações profissionais, mesmo que seja um trabalhador de merda. E sendo trans a situação só piora.

Desde criança eu sempre odiei esse país, a cultura, a música e as pessoas. Desde que tive meus primeiros contatos com vídeo games, sempre quis morar num país de língua inglesa.

Dez anos atrás meu sonho era morar nos EUA. Acho que passei uns cinco anos com esse desejo. Ficava vendo Nova York pelo Google Street View. Eu tinha um jogo chamado True Crime New York City. Perdia a maior parte do meu tempo livre explorando Manhattan e praticamente conheci aquela ilha melhor que a cidade onde moro.

Quando comecei a transição, meu sonho passou a ser o Canadá, pelo respeito às pessoas trans enquanto seres humanos. Mas diferente dos EUA, eu não havia começado a pesquisar a fundo o país até o início deste ano, quando caiu a ficha que no Brasil eu não tenho futuro.

O governo de lá possibilita diversos meios para que a maior parte das pessoas possa imigrar e ganhar residência permanente ou se tornar um cidadão. Mas tem um problema: do Brasil só pode ir quem é rico, pois exigem que a pessoa tenha o equivalente a um carro popular, pelo menos.

Eu poderia conseguir asilo político e/ou refúgio enquanto mulher trans, mas para isso precisaria de um advogado de lá, para ajudar no processo, e estar fora do Brasil, de preferência no México. Precisaria de um dinheiro que não tenho.

Voltei ao mesmo ponto em que estava até um ano atrás: sem esperança e sem expectativa de futuro, passando os dias jogando alguma coisa ou assistindo a vídeos de gameplays de jogos que nunca poderei ter porque não posso comprar um Playstation 4.

É a mesma sensação que eu sentia antes da transição, antes de tomar uma atitude. Me enfiar no mundo dos jogos para esquecer a realidade. Me sinto cansada.

Às vezes eu só queria ter uma banheira para terminar como Hannah Baker, livre dessa dor de viver.

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