18 de fevereiro de 2018

Procura-se uma luz


Esses últimos dias foram bem esgotantes e eu só estava mesmo empurrando até o limite, completamente desanimada e desmotivada, tanto, que até partes do corpo pararam de funcionar normalmente.

No final do último ano a equipe médica do hospital que faço acompanhamento hormonal ligou para minha mãe para que ela fosse comigo numa consulta com a psiquiatra e o psicólogo. Ela foi, mas depois fingiu que nada aconteceu.

Tentei conversar sobre o quanto a forma que ela me trata me incomoda (como se eu fosse um homem), mas ela simplesmente finge não ouvir e faz cara feia, isso quando não pega a bíblia e começa a chiar. Na cabeça dela eu ser mulher é obra de uma entidade maligna imaginária no qual ela acredita ser real.

Para piorar, tem uma rádio evangélica que ela costumava ouvir e que na parte da manhã faz debates com o ponto de vista dos cristãos. Ela já estava há meses sem ouvir essa rádio, mas em um dia bem específico ela pediu minha avó para ouvir o debate daquele dia, já que ela não estaria em casa, e tal "debate" era sobre a suposta "ideologia de gênero", que só existe na mente dos crentes.

Como de praxe, os participantes falaram muita merda chegando ao ponto de incentivar os pais a ensinarem os filhos a serem transfóbicos. Como se não bastasse isso, o locutor da rádio ainda falou indignado que ele não poderia falar nada do que ele pensava (preconceitos) na frente de um juiz, pois seria crime. Não aguentei calada, explodi e minha avó ouviu muito.

Quando minha mãe chegou, perguntou a ela se tinha ouvido. Achei aquilo coincidência demais e só serviu para ligar os pontos do porque ela me desrespeita o tempo todo, sabe que isso me incomoda e continua fazendo. Todas as vezes que a confrontei sobre o assunto, ela apenas se fez de desentendida e fugia.

Ainda no final do ano eu deveria ter recebido o dinheiro do Estado por via  judicial para comprar minha medicação, mas o banco não compriu com o prazo e só dois meses depois é que fui receber esse dinheiro, já na última caixa da ciproterona.

Achei que estava tudo bem, mas quando fiz a compra da medicação pelo site de uma farmácia que não tinha comprado antes, acabei por errar o número de casa no endereço e já tinha feito o pagamento.

Tentei corrigir pelo site, mas eles não ofereciam essa opção, então liguei e solicitei a alteração, mas falarem que a única coisa quer podiam fazer era cancelar o pedido e eu esperar o contato do setor financeiro para a devolução do dinheiro em até 15 dias, justamente o prazo que eu tenho para juntar a nota fiscal ao processo. No fim eu fico pensando se mais uma vez vou ter que gastar um dinheiro que não posso e nem queria gastar.

Dizem que a vida é uma dádiva, mas não sei que "dádiva" é essa em que as coisas só dão errado. A começar pelo corpo trocado e que é totalmente o oposto daquilo que eu deveria ser. De brinde há uma vida de desrespeitos, dor, humilhação e quase nenhuma dignidade. Nem um emprego eu posso ter, pois a única coisa que atribuem a mim por causa desse maldito corpo é ser "travesti" e consequentemente a prostituição.

Será que era pedir demais ter nascido com uma boceta entre as pernas? Eu vejo a merda que a minha vida é e o quanto as pessoas próximas já conquistaram em idade inferior à minha coisas que eu nem sei se em mais vinte anos seria capaz de ter.

A única vontade que resta é a de chorar de ódio pensando no quanto eu poderia ter uma vida melhor se não tivesse nascido com essa maldição. Queria poder morrer, sair desse corpo e estar em paz.

Já quase pulei de um prédio, mas desperdicei o momento e desde então não tive mais coragem. Já apontaram uma arma pra mim, mas não consegui falar "atira". Hoje eu creio que se misturar 9 gramas (90 comprimidos socados) de um dos medicamentos que tomo com 500 ml de vodca seja o suficiente para finamente partir, mas tenho medo de falhar até nisso.

A vida para mim foi um grande desperdício, sem uma lógica ou importância. Apanhei tanto que simplesmente perdi a vontade e o interesse em continuar. Acho que já deixei isso bem claro com todos os desabafos que venho postando nesse blog.

Mas quem se importa? Faz semanas desde a última mensagem que recebi no Whatsapp sem eu precisar puxar assunto. As minhas publicações no Facebook? Uma em cada 15 recebe uma curtida. Esse blog mesmo nem acessos recebe, além de spam da Rússia ou EUA. Não sou uma pessoa querida e nem nunca fui. Se eu partir, acredito que minha falta não será sentida.

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